sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Frustração com as Perseidas

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Como ocorre praticamente todos os anos, agências de notícias e outras fontes de informação (neste ano a agência espacial americana, Nasa) anunciaram para a noite de 11/12 passado, a partir das 23h00, uma abundante chuva de meteoros na constelação boreal do Perseu, conhecidas como Perseidas.

Essa chuva, associada ao cometa Swift-Tuttle, tem radiante em um ponto próximo à estrela lambda do Perseu, situada a 50º de latitude norte.

Radiante é uma região do céu onde, por efeito de perspectiva, a chuva parece provir.

As diversas chuvas de meteoros que ocorrem ao longo do ano estão associadas à órbita de cometas que, em suas passagens em torno do Sol, por efeito do calor solar, têm reações químicas em seu corpo gelado e esse processo libera tanto gases como poeira no espaço, deixando uma trilha de detritos ao longo de sua órbita.

As Perseidas, no entanto, têm sido sistematicamente um fiasco para observadores austrais, ainda que possam encantar interessados no hemisfério Norte, onde aparece elevada no céu.

Em São Paulo e outras regiões sulinas do Brasil, no entanto, a observação é difícil, entre outras razões, porque essa constelação aparece muito baixa, junto ao horizonte norte.

Além disso, uma faixa amarronzada de poeira e outras formas de poluição típicas do ambiente seco do inverno encobrem uma porção significativa do horizonte celeste norte.

Uma das razões apontadas para se esperar um espetáculo incomum das Perseidas, no hemisfério norte, foi relacionada à fase da Lua, em fase crescente (a fase nova foi atingida às 16h41, horário de Brasília, do dia 10 passado).

Outra razão para a observação promissora de uma chuva de meteoros está relacionada ao fato de a Terra atravessar a região central de detritos durante a noite, evidentemente para observadores localizados no hemisfério noturno.

No hemisfério sul, no entanto, esses anúncios tem sistematicamente frustrado observadores. Quando isso ocorre, especialmente iniciantes perdem a confiança nas previsões, o que é sempre negativo.

Isso, no entanto, não impediu que leitores fossem ludibriados por imagens que nada tem a ver com chuvas de meteoros. E isso porque, para fotografar essas chuvas é preciso deixar o diafragma de uma câmara aberto para gravar um meteoro que cai. A câmara aberta grava o deslocamento das estrelas (resultado da rotação da Terra), com efeitos mais impressionantes em estrelas circumpolares.

Assim, o que é sistematicamente apresentado como resultado de uma chuva é, na realidade, mero deslocamento aparente de estrelas.

Tanto chuvas de meteoros como cometas são bem imprevisíveis. Perseidas, por exemplo, se manifestam entre 23 de junho a 20 de agosto, com pico entre 11/12 de agosto. Isso ocorre pela passagem da Terra pela região de maior densidade de material liberado pelo cometa.

Interessante é considerar a extensão da faixa de material liberado, levando em conta que a velocidade da Terra em torno do Sol é de aproximadamente 108 mil km/hora.

O cometa Swift-Tuttle, relacionado às Perseidas, foi descoberto de forma independente pelos astrônomos Lewis Swift e Horace Tuttle respectivamente em 16 e 19 de julho de 1862.

A última passagem do cometa pelo periélio (máxima aproximação do Sol) ocorreu em 1992, quando foi redescoberto pelo astrônomo japonês Tsuruhiko Kiuchi e foi visível com a ajuda de binóculo.

No próximo ano, mais uma vez, as agências do hemisfério norte distribuirão notícias de uma chuva abundante em Perseidas.

Mais uma vez os leitores não observarão nada no hemisfério sul e ficarão frustrados.

Mas nada disso vai mudar.

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